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A Importância dos Mitos

  • Mateus Machado
  • 27 de set. de 2016
  • 4 min de leitura

(...porque na escuridão também se canta)

Infelizmente, nos dias atuais, a palavra “Mito” vem sendo utilizada para designar uma mentira. É muito comum hoje em dia as pessoas comentarem “isso é só um mito” quando querem apontar uma mentira. Essa degeneração etimológica, impulsionada pela mídia, vem empobrecendo o entendimento do real significado do Mito e do seu valor incalculável, ou seja; a busca por uma melhor compreensão de nós mesmos, do nosso mundo e da própria existência e além dela.


A palavra Mito vem do grego “Mythos” e significa “palavra”, “discurso” ou “narrativa”. Antítese de “Logos”, usado para designar a forma objetiva, racional, para descrever um acontecimento. Desde a antiguidade os filósofos, em sua maioria, buscam a Verdade através do “Logos”, “Razão”, ao contrário dos poetas, artistas e contadores de histórias, que sempre buscaram a Verdade usando “Mythos”, a Metáfora, para dizer o indizível, para experimentar o sobrenatural.

É interessante, dentro da etimologia, lembrarmos que a palavra “Bythos”, muito próxima a “Mythos” significa “Abismo”, “Profundidade”, “Pai”, “Deus”. “Bythos Sigé” é “Abismo do Silêncio”, o mesmo que “Vácuo Quântico”, é como a Física Quântica intitula Deus.


Mitos são considerados Histórias Sagradas, isso porque eles são responsáveis pelo nosso relacionamento com o Divino, o inexplicável ou o desconhecido, com aquilo que está além da nossa compreensão lógica; paralelo aos “Contos de Fadas”, são como cápsulas do Tempo, preservando a Sabedoria antiga. Mitos são como espelhos refletindo as nossas angústias, os nossos medos, desejos e necessidades, seja em um nível pessoal ou coletivo. Mito é a própria expressão da imaginação humana. Jamais uma “mentira”.


A religião, como a conhecemos hoje, é a má interpretação do Mito; tornou-se o que é devido a sua corrupção dentro da esfera simbólica e sagrada. Isso ocorre quando o Homem tenta aprisionar uma expressão, um ensinamento metafórico antigo, dentro de uma gaiola literal, com regras rígidas que sufocam, corrompem e podem matar a Sabedoria contida em cada história. E quando essa atitude de racionalizar o Mito é levada ao extremo, nasce o fanatismo.

Penso que Mitologia deveria ser uma matéria curricular nas escolas, anulando aquela ideia tacanha de se “ensinar religião”, para que essas “histórias sagradas” sejam analisadas como devem ser, e que cada indivíduo, cada aluno em classe, tenha oportunidade de buscar o seu significado particular e, mais importante ainda, vivenciar uma experiência com o desconhecido, o inefável, com aquilo que não se pode dizer em palavras sem ficar limitado. Afinal, como disse Joseph Campbell é uma “literatura do Espírito”, da qual já não estamos mais tão familiarizados assim. Isso acontece com a Literatura em geral (ela está deixando de nos ser familiar) e a belíssima herança que ela nos deixou através de Poetas, Filósofos, Romancistas, contistas e tantos outros.


Dedicar-se a isso é voltar-se para dentro de nós mesmos e encontrar o nosso Centro, e é justamente esse retorno para dentro de nosso ser que essas “histórias sagradas” nos proporcionam. Sem essas referências, perdemos o nosso Centro, nosso Axis Mundi, e quando isso acontece, sofremos. Toda crise existencial é em sua essência uma crise espiritual.


A linguagem usada na Astrologia, por exemplo, além dos cálculos matemáticos, é a dos símbolos propriamente ditos, dos arquétipos (a essência de cada coisa, o modelo original) e por isso mesmo ela está fundamentada nos mitos, se utilizando dessas “histórias sagradas” para buscar e traduzir, para o nosso cotidiano, toda a nossa experiência humana, universal, os grandes dramas humanos, que vivenciamos ao longo de nossa existência.


E sim, a Astrologia é uma grande ferramenta de autoconhecimento e que, embora tenha suas limitações; uma vez que ela não serve como roteiro para nos libertar da Roda das Encarnações (isso é função da Astrosofia), ao menos ela serve como um roteiro fiel para nos conhecermos melhor, além de nos dar a oportunidade para vivenciarmos nossa experiência terrena de maneira mais plena, ao menos mais consciente de nossas limitações e de nossos potenciais.


Desde o seu surgimento a Astrologia vem passando por períodos de credibilidade e desconfiança, sendo vista com olhos preconceituosos e inquisidores, sendo relegada e diminuída à marginalidade como a irmã bastarda da Astronomia. Isso também acontece porque a Astrologia está intrinsecamente ligada aos Mitos, e seu simbolismo arquetípico. Desprezada pela Ciência Tradicional, ela chegou a se tornar uma peça empoeirada no canto escuro do Antiquário de nossa História.


No entanto, isso está mudando nos dias atuais. Está havendo uma crescente procura por autoconhecimento, assim como as chamadas “terapias alternativas”. Se hoje a Acupuntura é aceita e até mesmo indicada por muitos profissionais na área da Medicina, devemos lembrar que até bem pouco tempo atrás ela era vista como crendice, feitiçaria. Isso só para citar um exemplo.


Sim, essa é a tão proclamada Era de Aquário. E uma das chaves desta Era é a busca pelo Autoconhecimento! Penso que agora a máxima dita antes de Jesus, o Cristo, por Sócrates (Homem, Conhece-te a Ti Mesmo), está cada vez mais viva dentro de toda essa geração que de alguma forma tem o privilégio de estar presente nesta Era de significativas mudanças e catarses que estamos vivendo.


E creio que este é o momento para reavaliarmos o nosso jeito de caminhar, buscar nossas referências nas antigas sabedorias; e a Mitologia tem um papel importante nesta transmutação. Toda catarse é dolorida; o Mundo está sentindo as dores do parto. E apesar de todo o caos, de toda escuridão, penso no que o poeta Thiago de Mello disse em tempo difíceis “Faz escuro mas eu canto, porque a manhã vai chegar”.

Mateus Machado é Escritor, Poeta, Colunista, Astrólogo, Mitólogo e Tarólogo.

Escreve também para o portal Olhar Crítico

e atende através da MAZ Astrologia e Tarô.

Contatos:

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